[Portugal] Sistemas de coordenadas nacional ETRS89/PT-TM06

Jose Gonçalves jagoncal gmail.com
Domingo, 26 de Fevereiro de 2012 - 13:38:26 EST


Caros membros da lista


Envio esta mensagem na sequência de uma discussão na lista OSGeo-PT, com o
título "Diferença entre os EPSG 27492 e 27493":

http://osgeo-org.1560.n6.nabble.com/Diferenca-entre-os-EPSG-27492-e-27493-td4471462.html


(Os códigos EPSG definidos pelo European Petroleum Suvey Group associam um
código numérico a um sistema de coordenadas geográficas ou cartográficas. O
código 27492 correspondia ao sistema de coordenadas cartográficas
Hayford-Gauss datum 73 e foi recentemente actualizado para 27493).


O tema era apenas o datum 73, contudo levantaram-se outras questões
importantes para os utilizadores de informação geográfica e que nem sempre
têm sido devidamente discutidas. Não pretendo discutir a obrigatoriedade ou
conveniência do abandono dos sistemas anteriores mas apenas a definição da
projecção PT-TM06.


Na adopção do sistema ETRS89-PT-TM06 há que separar a questão do datum e a
da projecção. Em relação ao datum, o IGP adoptou o ETRS89 tal como todos os
países europeus. Penso que isso só traz vantagens para os utilizadores de
informação geográfica.


Relativamente à projecção (PT-TM06), e após alguns anos de experiência com
o seu uso, é que acho que a decisão tomada não foi boa. Penso que esta
questão deve ser discutida pelos utilizadores, partilhando a experiência
com este e com os sistemas anteriores e tendo em conta o que é feito
noutros países.


A opção tomada foi a de efectuar uma projecção muito semelhante à utilizada
com o datum Lisboa e o datum 73, tentando originar coordenadas
cartográficas muito parecidas com as anteriores. Para tal foi escolhido um
ponto central ligeiramente diferente do tradicional, de forma a compensar o
essencial da mudança de datum. Manteve-se a não aplicação de um factor de
escala no meridiano central nem translação de origem.


Algo semelhante tinha já sido feito aquando da escolha de uma projecção
para o datum 73. De forma a manter coordenadas parecidas com as do datum
Lisboa projectadas compensou-se a mudança de datum com uma pequena
translação de origem e não com uma mudança do ponto central. Tínhamos assim
dois sistemas de coordenadas: HG-DLx e HG-D73, muito parecidos, com
diferenças em geral inferiores a 6 metros. Percebe-se uma vantagem nesta
semelhança: o seccionamento das folhas de cartografia é praticamente igual,
perturbando pouco o processo de produção e actualização de séries
cartográficas.


Contudo julgo que as vantagens são largamente suplantadas pelas
desvantagens. A experiência do que aconteceu com a convivência destes dois
sistemas durante uns vinte anos recomendaria que sistemas de coordenadas
parecidos é algo a evitar. Facilmente se podem cometer confusões, quer por
descuido, quer pelo menor conhecimento destas questões por parte das
pessoas que de forma mais ou menos directa trabalham com esta informação.
Não é raro vermos levantamentos topográficos de suporte a projectos de
engenharia, ligados à rede, em que ninguém faz ideia sobre o sistema
utilizado. A realidade é o que é... Descreveram-me um caso de ligação entre
duas auto-estradas em que no campo se detectou uma falha de alguns metros
porque um dos projectos estava em HG-DLX e outro em HG-D73, o que obrigou a
"remendar" a obra. Acredito que existam outros casos semelhantes. Isto é
francamente mau para o país e traz prejuízos económicos.


No uso dos dois sistemas vejo as pessoas a tomar atitudes de circunstância
como: "Tem a translação de 200 km em X e 300 Km em Y? Provavelmente é datum
Lisboa" (mas pode não ser...); ou então: "Tem duas casa decimais? Deve ser
datum Lisboa. Com 3 casas decimais deve ser datum 73". Todos concordarão
que não é aceitável ter de trabalhar assim.

Agora com o PT-TM06 e com a convivência dos 3 sistemas muito parecidos,
como vemos na prática, há ainda maior risco com as confusões. Se o novo
sistema fosse algo claramente diferente não haveria lugar para confusões.


Nesta questão de escolha de um sistema de coordenadas para usar com o datum
ETRS89 acho que deveríamos ver com atenção o que é feito noutros países
europeus. Penso que não temos o hábito de fazer isso já que temos algumas
particularidades nos nossos sistemas de coordenadas, que são únicas. Somos,
por exemplo, o único país europeu que actualmente, com o ETRS89, usa um
sistema com coordenadas negativas, por não aplicarmos translação de origem.
Já anteriormente, com o HGD73, éramos o único país a aplicar uma pequena
translação de origem.


Olhando para o que se passa com outros países vemos que vários,
especialmente os que têm maior extensão e tinham várias zonas de projecção,
tendem a adoptar o sistema UTM. Outros países com a dimensão próxima da de
Portugal e que adoptam projecções próprias, criaram para o ETRS89
projecções que originam coordenadas completamente diferentes das dos
sistemas mais antigos. Uma excepção será a Bélgica em que o sistema "Belge
Lambert 2005" (EPSG:3447) criava coordenadas semelhantes aos sistemas mais
antigos (diferentes por centenas de metros porque não tentam absorver na
projecção a diferença de datum). Contudo, fizeram entretanto uma adaptação,
criando o sistema "Belge Lambert 2008" (EPSG:3812), que consiste apenas na
inclusão de uma nova translação de origem com mais 500 km em X e 500 Km em
Y.


Acho que uma alteração deste tipo no nosso sistema de projecção seria uma
excelente ideia. Os valores de translação de 500 km em X e Y parecem-me
adequados para Portugal porque geram coordenadas diferentes de qualquer
sistema anterior e não ultrapassam o milhão de metros. Assim teríamos um
sistema em que a definição PROJ.4 seria:


+proj=tmerc +lat_0=39.668258333 +lon_0=-8.133108333 +k=1 +x_0=500000
+y_0=500000 +ellps=GRS80 +towgs84=0,0,0,0,0,0,0 +units=m


ou então em alternativa, englobando a latitude do ponto central com o falso
norte:


+proj=tmerc +lat_0=35.163169584 +lon_0=-8.133108333 +k=1 +x_0=500000
+ellps=GRS80 +towgs84=0,0,0,0,0,0,0 +units=m.


Se eu tivesse de escolher de raiz uma projecção escolheria outros
parâmetros. Contudo, dado que já existe o PT-TM06, esta alteração, de
translação apenas, seria pacífica.


Não sei se da parte do IGP, como autoridade nacional neste domínio, haveria
disponibilidade para adoptar um novo sistema em substituição do PT-TM06, ou
se haverá algum condicionamento legal. Os belgas fizeram algo de semelhante.


Cumprimentos


José Alberto Gonçalves
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